Toda doença crônica requer cuidados especiais no que se refere ao controle dos fatores desencadeantes, agravantes das crises de dor, elevação da pressão arterial, aumento da glicemia, crises de falta de ar, inflamação cutânea, entre outros, para o bem estar do paciente.

Muito importante nas doenças alérgicas é o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar: além do alergologista, outros profissionais médicos (como o otorrinolaringologista) e profissionais da área da saúde (fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta, dentista e nutricionista) tem o seu papel bem definido. Com o trabalho realizado em grupo, temos resultados brilhantes, trazemos confiança ao paciente, e melhora da adesão ao tratamento.

Podemos exemplificar, começando pela rinite alérgica, que não raramente está acompanhada de hipertrofia de adenóides (“carne esponjosa”), desvio de septo, ou menos freqüentemente, pólipos nasais (tumorações na cavidade nasal) e outras malformações. Muitos deles são denominados “respiradores orais”. Estes pacientes podem apresentar apnéia e roncos noturnos, crises de tosse, irritação ou dor de garganta, olheiras, falta de apetite, sonolência, déficit de concentração, irritabilidade, e no caso de crianças, baixo ganho de peso.

O alergologista deve investigar antecedentes familiares ou pessoais de alergias (asma, rinite alérgica, dermatite atópica), através de história clínica, exame físico e testes alérgicos (cutâneo ou RAST - no sangue). Cabe ao profissional a orientação sobre os cuidados com o ambiente, as medidas profiláticas das crises, e a consideração de vacinas para tratamento de alergias em alguns pacientes, especialmente quando o controle ambiental não é eficaz.

Ao otorrinolaringologista, além do tratamento medicamentoso, cabe a avaliação da necessidade cirúrgica nesses pacientes, pois muitos têm infecções de repetição como sinusites, otites, e amigdalites decorrentes de alterações anatômicas da cavidade nasal e seios paranasais. A perda auditiva é freqüente nos pacientes com rinite alérgica e otites de repetição, e deve ser pesquisada com o auxílio do fonoaudiólogo. Este mesmo profissional está capacitado para detecção destes distúrbios da fala e audição e pode iniciar terapia adjuvante em muitos casos. Existem exames que detectam as alterações auditivas.

Outro grande problema que o paciente respirador oral apresenta são as alterações de desenvolvimento da cavidade bucal. Uma vez que a boca do paciente está sempre entreaberta, impede que o desenvolvimento ocorra adequadamente, ocasionando problemas de mordida (fechamento inadequado da boca), apinhamento dentário (“encavalamento dos dentes”) com estreitamento da arcada dentária, palato ogival (céu da boca muito alto). Todos os pacientes necessitam de acompanhamento com o dentista, e muitos deles, devem utilizar aparelhos ortodônticos para correção dos desvios. Para um número menor, algumas cirurgias são indicadas, em caso de maiores transtornos, onde os aparelhos já não conseguem resolver, especialmente aqueles de maior idade, onde o desenvolvimento facial já se completou.

Ainda sobre o respirador oral, devido às alterações respiratórias e ao quadro de fadiga, apresentam problemas posturais, que devem ser encaminhados ao ortopedista para avaliação e realização de sessões com fisioterapeuta.

Outro exemplo de abordagem em conjunto é na dermatite atópica, uma doença crônica e recidivante, clinicamente caracterizada por lesão pruriginosa (coceira) e descamativa. Algumas formas graves da doença geram diversos problemas psicossociais. A pele inflamada, às vezes com vesículas e até odor característico, gera desconfiança na população sobre a possibilidade de uma doença infecto-contagiosa, isolando o paciente do meio social. O maior problema é que em 85% dos casos, a doença aparece antes dos 5 anos de idade, quando o indivíduo começa a formação da personalidade. Isto sem falar nos adolescentes em especial, as meninas que se preocupam mais com a aparência. Este caso requer apoio de** psicólogos**, tanto para as crianças e adolescentes, quanto para os pais ou cuidadores.

Pacientes portadores de dermatite atópica podem ter alergia alimentar: leite de vaca e ovo são os alimentos mais freqüentemente relacionados com a piora dos sintomas cutâneos nesta doença. Cerca de 90% dos testes cutâneos em pacientes com dermatite atópica são positivos para algum alimento. Assim, para orientação dos pacientes sobre restrições de dieta e alternativas alimentares é fundamental a ação conjunta com o nutricionista.

Uma equipe multidisciplinar bem organizada é, portanto, capaz de trazer melhores resultados para o bem estar dos pacientes alérgicos.